Tenho uma amiga que se orgulhava de, em 23 anos de casamento, nunca ter dito “eu te amo” para o marido. Batia no peito como uma vencedora, como o lado vitorioso de um eterno jogo de sedução, em que apenas uma parte cede, e outra capitula. Sua estratégia, garante, deixou-o sempre apaixonado, “no cabresto”. Quando ela o conheceu, disse-me, ele não era o homem sensível que se tornou ao longo de duas décadas, mas um rapaz agitado, que não parava com ninguém. “Eu nunca telefonei para ele para nada”, festejava. “E ele sempre me ligou”.
No fim do ano passado, uma tragédia abateu-se sobre esse casal. O marido teve um ataque cardíaco fulminante e não resistiu. Minha amiga não teve tempo de se despedir, nem mesmo de tentar salvá-lo — foi um enfarto de uma rara violência. O golpe lhe foi fatal; ela o adorava, mas não a ponto de lhe contar que o amava.
Esse trecho saiu de uma reportagem da Revista Época (acesse aqui a reportagem na íntegra), intitulada Se você ama, por que não diz?.
Essa reportagem me sensibilizou imensamente. Infelizmente as pessoas deixam passar oportunidades, momentos, instantes sem demonstrar aquilo que sentem e quando percebem que deveriam ter feito... não há outra chance.
Muitas vezes é o instante que morre, o momento que finda, a oportunidade que passa... E aí... aí já foi! Não há mais o que fazer... Foi tanta economia de palavras que o outro já não está mais lá para ouvir... o outro já nem quer mais ouvir.
Por que somos tão abundantes com críticas e tão econômicos com elogios?
Não sei explicar. Eu procuro não economizar palavras, sentimentos... Então não entendo as pessoas que não conseguem dizer que amam as pessoas que amam. Não consigo entender essa economia de palavras. Concordo que gestos sinceros valem mais que mil palavras 'mascaradas'. Mas não é disso que estou falando aqui. Falo de sentimentos verdadeiros que não são expressos verbalmente. Falo de momentos que passam e não voltam jamais.
Num mundo sem toques, olhares e os sons das vozes, de carinhos vazios de Twitter e Facebook, protegidos pela tecla de um computador, o grande desafio do ser humano é ir além do “cutuco” das redes sociais, pegar um carro, enfrentar o trânsito, subir o evelador, tocar a campainha e dizer, sem medo, o que sente.
Num mundo sem toques, olhares e os sons das vozes, de carinhos vazios de Twitter e Facebook, protegidos pela tecla de um computador, o grande desafio do ser humano é ir além do “cutuco” das redes sociais, pegar um carro, enfrentar o trânsito, subir o evelador, tocar a campainha e dizer, sem medo, o que sente.
Como dizia o Vinícius: e cada verso meu será pra te dizer que eu sei que vou te amar por toda a minha vida...
Sábio Vinícius!