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Victor Hugo

quarta-feira, 23 de outubro de 2013

.sem filtro.

 
Quando eu era pequeno só existiam duas raças de cães (que eu me lembre), Pequinês e Dobermann. O Pequinês tinha um latido agudo, chato e irritante, já o Dobermann era um latido potente, grave e feroz. 
 
Logo depois de começar a estudar no Colégio Metodista União - Uruguaiana, em 1987, comecei a voltar para casa a pé, pois já estava com 12 anos de idade (era outro tempo, menos violência... hoje não arrisco deixar meu filho com a mesma idade voltar da escola sozinho), descobri, assim, que era possível fazer vários trajetos. A cada dia um caminho diferente. Até que se esgotou o leque e possibilidades. Eram ao todo 23 maneiras de chegar em casa percorrendo a mesma distancia e utilizando o mesmo espaço de tempo. Mas apenas duas ruas finalizavam os 23 caminhos, Av. Presidente Vargas e Rua Feliciano Ribeiro.
  
No último quarteirão da Av. Presidente Vargas, à direita, havia uma casa com muro e portão altos que impossibilitavam enxergar o lado de dentro. Atrás desta “muralha” soava um latido grave e feroz. Um latido daqueles que arrepia até a alma. Para evitar uma tragédia, dessas que acontecem quando se está desprevenido e alguma coisa muito assustadora te impulsiona para um estado fisiológico completamente constrangedor, eu atravessava a rua.

Num belo dia, ao chegar perto da casa do enorme cão, percebi, olhando de relancina, antes de atravessar a rua, que o portão estava aberto. Ora, se o portão estava aberto o enorme cão deveria estar preso, ou no pátio dos fundos. Voltei na direção da casa... por curiosidade. Já imaginando o terrível e enorme cão preso pela coleira destroçando uma paleta de ovelha. Bravamente passei pela frente olhando para dentro. Uma bela casa, mas nada do cusco.

Assim que saí do limite da abertura do portão escutei o latido feroz e o barulho das unhas do animal correndo em minha direção pela calçada de cimento, por onde deveria, certamente, entrar carros. Sem pensar duas vezes e nem olhar para trás, corri. Corri como nunca em toda a minha vida e como nunca mais irei correr. Só que o cusco era mais rápido do que eu.

O cachorro, assim como eu em relação a ele, estava com gana de conhecer quem passava dia sim e dia não pela frente do portão.

Corremos os dois, um quarteirão inteiro. Eu até podia sentir o calor do bafo das fuças próximo as minhas pernas. Até que por um descuido, deixei a cair a mochila. Neste momento olhei para trás para marcar e identificar o local para um possível retorno em busca do meu material, caso conseguisse escapar vivo. Foi aí que, pela primeira vez, depois de mais de dois anos eu conheci o feroz e tenebroso cachorro.

Quase não acreditei no que vi. Era um pequinês! PQP!
Cachorro desgraçado!

Parei de correr, ele percebeu que eu havia perdido o medo, parou também. Ficamos parados por cinco segundos, nos olhando, um de frente pro outro, até pensei em ir pra cima do nanico, mas o medo que ele me submeteu durante dois anos foi tanto, que ainda o respeitava, não havia mais medo, apenas respeito. Até que ele deu uma esbaforida, “deu de ombros” e foi embora a “trote”, vitorioso.

 
(...)
 
Tudo isso para dizer que:

1ª) Não tenha medo do desconhecido.
2ª) A estrada é comprida e andar vale a pena.
3ª) Nada é tão assustador que não possa ser enfrentado.
4ª) A vida não se resume em 23 caminhos... A cada mudança de percurso, novos caminhos surgirão.

(...)
 
Siga em frente com a alma forte e o coração sereno.
 
(...)
Há braços!
 
 
 


Um comentário:

  1. leitura agradável...fiquei imaginando o guri percorrendo os caminhos, desbravando horizontes...o encontro com o cão foi hilário (como diz minha pequena quando acha algo engraçado...). Belo texto! Abraço!
    Miriam

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