Um amigo cego meu pensa muitas vezes em seu interior, quando vai dormir: “Talvez, quando eu levantar amanhã, eu possa enxergar”. Até hoje, ele continua cego. Mas este sonho não se apaga em seu coração.
Como seria bom se todos nós sonhássemos sempre o mesmo! Querer acordar e ver tudo com clareza, porque não enxergamos tão bem quanto gostaríamos. A fé, no que parece impossível, continua viva quando cuidamos da chama do coração.
Alguém disse: “Se, por algum instante, Deus me desse um pedaço de vida, eu aproveitaria esse tempo o máximo possível. Daria valor às coisas, não pelo que valem, mas pelo que significam. Dormiria pouco, sonharia mais, porque entendo que, em cada minuto em que fechamos os olhos, perdemos sessenta segundos de luz. Eu andaria enquanto os outros se detêm, despertaria enquanto os outros dormem”. É o desejo de viver avida plenamente, sem sombras, sem escuridão. Uma vida com sentido e cheia de luz.
Um dia desses, uma pessoa comentava quão importante é viver aceitando que muitas coisas acontecem de repente. É verdade. Os milagres ocorrem quando não os esperamos. Vamos por um caminho, acreditamos que o correto é o que estamos fazendo, e de repente acontece algo que muda tudo.
Uma morte, uma doença, um imprevisto. Um acidente, um acontecimento alegre, uma surpresa inesperada. Um sorriso, um “te amo” que muda tudo, um abraço que nos rompe por dentro. Uma palavra de carinho ou de desprezo que nos comove. Um “adeus”, um “até logo”. Um silêncio que nos faz compreender. Uma viagem, uma resposta não pedida, uma pergunta lançada ao ar. Um “olá”, um “nunca é tarde”.
Às vezes, temos a agenda tão cheia, tão marcada, que suprimimos os possíveis “de repente” da nossa vida, tentando evitar que eles compliquem a nossa existência. Nós os evitamos, os censuramos, os escondemos. Não queremos que nada aconteça “de repente”.
Queremos estar tranquilos, com tudo sob controle. Mas isso não é possível. As coisas continuarão acontecendo em nossa vida quando menos esperarmos.
Se fôssemos mais flexíveis, esses “de repente” não seriam tão incômodos. Nós nos adaptaríamos facilmente às mudanças e as veríamos como novos caminhos que Deus abre para nós. Se colocássemos nossa agenda nas mãos de Deus, talvez as mudanças não nos complicariam tanto a vida.
Para isso, temos de desenvolver um dom especial, essa capacidade de descobrir Deus em tudo, essa ingenuidade das crianças que sabem aproveitar a vida no presente, aqui e agora. Sem olhar o passado com nostalgia ou culpa. Sem esperar o futuro com medo e desconfiança.
Esses “de repente” podem transformar nossa vida para sempre.
Pe. Carlos Padilla
Saiu daqui.
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