O ESPANTO
(Silvio Genro)
Braços
abertos em cruz, que nem um Cristo Jesus perdoando nossos pecados...
O espantalho
se parece com gente que o mundo esquece, nalgum rincão do passado.
Qual fantasma
na lavoura sua estampa assustadora espanta os passarinhos!
No espaço
vazio dos braços há um gesto inútil de abraço, de alguém que ficou sozinho.
Esboço de ser
humano, é um monumento profano, abençoando a plantação...
O espantalho
coitado, lembra alguém crucificado em sua própria solidão.
Na fúria dos
temporais, quando o mar dos milharais ganha brilho e movimento,
Qual maestro
maltrapilho, ele rege os pés de milho com a batuta dos ventos!
A quem o
espantalho assusta com a sua fama injusta de feiticeiro pagão?
A quem o
espantalho engana qual triste figura humana com palha no coração?
Solitário nas
planuras, o espantalho em noite escura namora estrelas distantes...
Esquecido por
momentos que lhe falta sentimentos para tê-las como amantes.
E quantas
vezes a lua, desejosa de ser sua veio aninhar-se em seus braços?
E ele,
incapaz de um carinho, viu-a seguir seu caminho sem poder seguir-lhe os passos.
Como será não
ser nada, feito uma estátua plantada sem poder rir nem chorar?
Que pesadelos
medonhos, substituem os sonhos dos que não sabem sonhar?
Vida afora,
velho amigo, eu comparei-me contigo em momentos de amargura...
Sem a paz que
tens nos campos e nem a luz de pirilampos para enfeitar-me a figura.
A quem o
espantalho espanta com silêncios na garganta e dois botões cegos no olhar?
A quem o
espantalho mente quando se finge de gente tentando nos assustar?
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