Aff... Detesto. Mesmo, de verdade! Mas sei da importância.
Tá, tá, tá... Pior seria não ter uma casa pra limpar!
Mas pq estou fazendo este desabafo? Esses dias veio uma "turma" (preservarei as identidades) aqui em casa. E o assunto era "Nossa, como a fulana é caprichosa! A cada dela é um brinco!"... "Nossa, já a casa da beltrana, que teve bebê agora é um horror! Uma bagunça.. Entre outras coisas, Os móveis todos roídos pelos cachorros, blablabla...".
Aquilo me incomodou tanto. E isso que eu não conheço a fulana, tão pouco a beltrana!
Na hora disse assim: bom, a vida é feita de escolhas e prioridades. Talvez a prioridade da beltrana não seja ter móveis novos agora... E sim ter filhos, cachorros, casa bagunçada mesmo. Já para a fulana é ter sua casa limpa e estar sozinha.
Quem está certa?
Quem é mais feliz?
Hoje pela manhã lembrei da história... Lembrei também que isso poderia dar um post, complementado é claro, pelo que a Martinha (Medeiros!) escreveu sobre isso esses tempos aí:
"Existe o certo, o errado e todo o resto". Esta é uma frase dita pelo ator Daniel Oliveira vivendo Cazuza, em conversa com o pai, numa cena que, a meu ver, resume o espírito do filme ...
Certo e errado são convenções que se confirmam com meia dúzia de atitudes. Certo é ser gentil, respeitar os mais velhos, seguir uma dieta balanceada, dormir oito horas por dia, lembrar-se dos aniversários, trabalhar, estudar, casar-se e ter filhos, certo é morrer bem velho e com o dever cumprido. Errado é dar calote, rodar de ano, beber demais, fumar, se drogar, não programar um futuro decente, dar saltos sem rede. Todo mundo de acordo?
Todo mundo teoricamente de acordo, porém a vida não é feita de teorias. E o resto? E tudo aquilo que a gente mal consegue verbalizar, de tão intenso? Desejos, impulsos, fantasias, emoções. Ora, meia dúzia de normas preestabelecidas não dão conta do recado. Impossível enquadrar o que lateja, o que arde, o que grita dentro de nós.
Somos maduros e ao mesmo tempo infantis, por trás do nosso autocontrole há um desespero infernal. Possuímos uma criatividade insuspeita: inventamos músicas, amores e problemas, e somos curiosos, queremos espiar pelo buraco da fechadura do mundo para descobrir o que não nos contaram. Todo o resto.
O amor é certo, o ódio é errado e o resto é uma montanha de outros sentimentos, uma solidão gigantesca, muita confusão, desassossego, saudades cortantes, necessidade de afeto e urgências sexuais que não se adaptam às regras do bom comportamento. Há bilhetes guardados no fundo das gavetas que contariam outra versão da nossa história, caso viessem a público.
Todo o resto é o que nos assombra: as escolhas não feitas, os beijos não dados, as decisões não tomadas, os mandamentos a que não obedecemos, ou a que obedecemos bem demais - a troco de que fomos tão bonzinhos?
Há o certo, o errado e aquilo que nos dá medo, que nos atrai, que nos sufoca, que nos entorpece. O certo é ser magro, bonito, rico e educado, o errado é ser gordo, feio, pobre e analfabeto, e o resto nada tem a ver com estes reducionismos: é nossa fome por idéias novas, é nosso rosto que se transforma com o tempo, são nossas cicatrizes de estimação, nossos erros e desilusões.
Todo o resto é muito mais vasto. É nossa porra-louquice, nossa ausência de certezas, nossos silêncios inquisidores, a pureza e a inocência que se mantêm vivas dentro de nós mas que ninguém percebe, só porque crescemos. A maturidade é um álibi frágil. Seguimos com uma alma de criança que finge saber direitinho tudo o que deve ser feito, mas que no fundo entende muito pouco sobre as engrenagens do mundo. Todo o resto é tudo que ninguém aplaude e ninguém vaia, porque ninguém vê.
Grassi, adorei o post. A história sempre se repete, pq julgamos os outros como nós vemos o que é certo e errado. A gente seguido se pega comentando coisas que a fulana fez, que é um absurdo, que é isso ou aquilo... somos humanos... mas seguimos na tentativa de levar a sério a teoria whatever.
ResponderExcluircomo sou o rei das frases feitas...
ResponderExcluiro certo é errado, o não é sim...
ser feliz é o que se quer... o resto, é resto
Pra mim tudo se resume com uma palavra: Prioridades!
ResponderExcluirO que é importante pra ti, pode não ser pra mim.. e vice-versa!
Claro que os julgamentos são duros, mas normalmente provém de uma fonte que não tem experiência no assunto. Ex: julga os brinquedos espalhados, quem não tem filhos e não sabe a alegria envolvida nessa bagunça.
Julga os móveis roídos, quem não tem cachorro. E por aí vai...
Ahã, minha gente...
ResponderExcluirÉ que as pessoas precisam aprender que as suas verdades/prioridades não são as verdades do mundo!
Olha, infelizmente as pessoas são 'cruéis'... julgam muito umas às outras.
ResponderExcluirTento fazer sempre o exercício de tentar não julgar...
As pessoas, em geral, se guiam pela aparência.
Nem tudo que parece, realmente é.
Muito bom este teu post, Grassi.
Adorei!